Qua, 27 de Junho de 2012 11:21
por: cnbb
Dom Redovino Rizzardo Bispo de Dourados (MS)
Há poucos dias, acabei de ler o livro de Thomas de Wesselow: “O Sinal – o Santo Sudário e o Segredo da Ressurreição”. Escrevi: “Acabei de ler”. Mas, para ser sincero, não consegui terminá-lo. Não apenas por seu tamanho – 477 páginas – mas, sobretudo, porque, da metade do volume em diante, apesar de agnóstico e racionalista, o autor passa a exercer a função de teólogo, com inúmeras e graves discrepâncias em relação à fé das Igrejas cristãs.
Como historiador da arte, porém, Thomas Wesselow realizou uma obra admirável. Com maestria e competência, fundamentado na ciência e na história, ele leva o leitor à plena certeza de que o Sudário depositado atualmente numa igreja de Turim, é um lençol que envolveu o corpo crucificado de um judeu no século I da Era Cristã, e que, a partir dos Evangelhos, só pode ser o do homem Jesus.
Para ele, as fotografias do Sudário feitas por Secondo Pia, em 1898, são uma prova irrefutável de que a imagem nele desenhada não é uma pintura medieval: «O negativo da fotografia do Sudário é a defesa da autenticidade da peça. Demonstra que a imagem possui uma estrutura oculta que não poderia ter sido concebida no século XIV, quando a presença da relíquia na Europa foi documentada pela primeira vez. Um simples olhar à inversão automática da imagem basta para fazer desaparecer a ideia de que ela possa ser obra de um pintor. Se é uma falsificação, seria a mais engenhosa e improvável falsificação da história, uma obra de habilidade e astúcia estupendas. Se não é, provavelmente está ligada, como afirma a tradição, à morte e ao sepultamento de Jesus».
Como apoio à tese, traz o testemunho de dezenas de estudiosos, inclusive de quem não partilha a fé cristã: «Como disse o grande historiador da arte judeu Ernst Kitzinger, “não há pinturas que apresentem marcas de sangue como as do Sudário. Quem quiser pode procurar à vontade, mas não encontrará nenhuma”. Se a imagem do sangue não foi pintada, é porque resulta forçosamente de uma morte e de um sepultamento genuínos».
O que dizer, então, do exame do Sudário feito pelo carbono 14, em 1988? A resposta é dada pelo autor num capítulo de 14 páginas, cujo título fala por si mesmo: “O fiasco da datação por carbono”: «Para a maioria das pessoas, a datação por carbono realizada em 1988 foi a prova definitiva de que o Sudário era produto da Idade Média. A realização do teste no Sudário, porém, foi tão confusa e insatisfatória quanto a realização de um grande projeto científico poderia ser. A noção popular de que a datação por carbono do Sudário foi definitiva, é simplesmente equivocada».
Seu raciocínio começa a soçobrar quando se decide a apresentar uma explicação para a formação da imagem de Jesus no Sudário: «Quando nos vemos diante de um fenômeno misterioso, geralmente é sensato supor que ele tem uma causa natural.
Embora o Sudário pareça resultar de um único processo de formação de imagem, não há razão para duvidar de que esse processo obedeceu às leis da natureza. Afinal, outras imagens estranhas e automáticas existem, e não é preciso invocar milagres para explicá-las. A imagem do Sudário foi criada por vapores emanados do corpo humano. Muitos dos envolvidos no estudo do Sudário acabaram acreditando, acima de qualquer prova científica, que ele é o traço material de um milagre, que sua imagem representa o brilhante clarão da Ressurreição».
Para Wesselow, Jesus é um homem como qualquer outro: morreu, foi sepultado e seu corpo não escapou da decomposição. O Ressuscitado que as mulheres encontraram na visita que fizeram ao túmulo no domingo de manhã... era sua imagem impressa no Sudário: ««Longe de estar vazio, o sepulcro continha não só o corpo de Jesus, mas também uma aparição misteriosa no pano mortuário. Foi essa aparição que assombrou as mulheres e fez com que sua ida à tumba fosse comemorada nas histórias que entraram nos Evangelhos».
Como qualquer outro racionalista, Thomas de Wesselow só admite o que a ciência explica. Mas, talvez por ter acolhido um lampejo de luz divina, fez uma descoberta fundamental e decisiva: «Os cristãos acreditam na ressurreição não porque consideram que o Sudário foi produzido pela desmaterialização luminosa de um corpo humano, mas porque têm fé nos relatos dos Evangelhos».