Dom José Alberto Moura Arcebispo Metropolitano de Montes Claros
Quando recebemos missão de grande responsabilidade e não menos de muita gratificação em executá-la, ficamos eufóricos e vamos à luta com ardor, contentamento e disposição. No entanto, se formos instados a uma atividade sem percebermos seu valor e o grande ideal para realizá-la, não cuidamos bem dessa incumbência. Por isso, tudo o que realizamos dentro de um projeto de vida com um ideal elevado nos leva a executá-lo da melhor maneira. É o que lembra Paulo: “Nós somos predestinados a ser ... os que de antemão colocaram a sua esperança em Cristo. Nele também vós ouvistes a palavra da verdade... Nele, ainda, acreditastes e fostes marcados com o selo do Espírito prometido, o Espírito santo, que é o penhor da nossa herança” (Efésios 1,11. 12.13.14).
Conscientes dessa marca indelével de Deus, com a missão que Ele nos dá, fazemos nossa caminhada em busca da vida de sentido, espalhando o bem e a promoção da dignidade da vida para todos. Cooperamos com um convívio autenticamente humano para todos, pois, nossa missão nos enseja tal atitude.
Quando somos convictos de nossa missão de seguidores das pegadas de Cristo, não desanimamos, mesmo quando muitos, até não percebendo seus atos de injustiça, querem nos impedir de praticar o bem. Eles nos injuriam, diminuindo-nos e usando meios antiéticos para se sobrepujarem e dizerem que eles é que realizam tudo melhor do que nós. Usam até o nome de Deus e da comunidade religiosa e de seu prestígio diante do público para disfarçar seus reais propósitos.
Predestinados a sermos filhos adotivos, como afirma o apóstolo Paulo (Cf. Efésios 1,5), Jesus nos mostra o projeto de Deus para espalharmos, por seu mandato, sua bondade e seu amor a todos, sem medo e com perseverança. Nesse espírito, tornamo-nos sedentos de ir a todos, levando a Boa-Nova da salvação, caracterizada pelo exemplo de amor, de despojamento, de ações concretas de promoção da vida, da justiça, da boa formação da família, da política de real serviço ao bem comum. Não nos conformamos com a exclusão social, com as discriminações, com o desrespeito aos valores inerentes à dignidade da vida.
Jesus recomenda aos discípulos o ardor missionário de quem vai levar sua vida que liberta a pessoa de tudo o que a escraviza em seu egoísmo com todos as conseqüências e seus males. Para isso, o missionário deve ser despojado e ter convicção do que faz. Não pode ser pessoa desanimada nem apegada ao que é material: “Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas” (Marcos 6, 9). O desapego ajuda a toda a pessoa que quer ser realmente cristã. O uso do que é material é instrumento e não finalidade. O ardor missionário faz o discípulo perceber e assumir a missão como um ideal acima de qualquer busca de vantagem material ou de prestígio. Trabalha não para dizer “eu fiz” , “eu realizei melhor do que os outros”, “eu estou acima de qualquer um” e sim “eu não fiz se não a minha obrigação de discípulo”, “oxalá os outros façam melhor do que eu”, “eu colaboro com os outros para também eles fazerem o bem a todos”, “eu não vou impedir a quem procura fazer o bem aos outros”!
É tão bom vivermos seguros de que o Espírito Santo nos acompanha quando aceitamos a predestinação para sermos santos e realizadores do projeto de Deus.