Dom José Alberto Moura Arcebispo de Montes Claros (MG)
Na parábola da semente Jesus fala de vários tipos de terreno. A semente tem oportunidade de nascer e desenvolver-se quando a terra é adequada para isso (Cf. Marcos 4,26-34). O terreno de nosso eu, além do DNA, tem os condicionamentos do meio, a partir da própria família e do meio ambiente. Temos de trabalhar com todos os dados para nossa personalidade se firmar com possibilidade de dar bons frutos para nós mesmos e os outros. O dado da fé permeia todo nosso ser e pode dar consistência de cultivo melhor, mesmo nos diversos fatores que compõem e formam nossa realidade de ser e nosso agir. Por isso, com a graça de Deus, qual água benfazeja, podemos ser fecundados desde o berço e em toda a nossa trajetória vivencial. A formação de nosso caráter, trabalhado com boa orientação e boa vontade, pode ser gratificante quando tomamos consciência de nosso ser relacionado com Deus e com o semelhante. Buscamos, assim, o ideal de plena realização, com a efetivação do projeto de Deus. Ele nos ensina a conviver na fraternidade e na ajuda da promoção do bem comum.
Quando deixamos Deus agir em nós, tornamo-nos amoldáveis à sua graça: “Estamos cheios de confiança” (2 Coríntios 5,8). Mesmo imperceptivelmente vamos crescendo no amor, quando nos colocamos dóceis à sua ação : “O reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Marcos 4, 26-27). Para tanto, é preciso ter-se atitude consciente de se fazer e dar o melhor de si para não impedir, qual ramo seco, a atuação da seiva do amor de Deus. Aliás, mesmo tendo falhas, a pessoa de cooperação com a ação divina procura sempre amoldar-se aos ditames de sua palavra, tentando corrigir o que não se afina com o Evangelho.
Mas a identificação com o projeto de Deus nos faz relacionar a fé com sua ação conseqüente. Tudo é feito na ótica do amor e serviço ao outro. Os temperamentos, bem trabalhados com a vontade de prestar o melhor auxílio possível às pessoas e comunidades, são sempre revisados para não destoarem desse objetivo. O trabalho contínuo com a própria terra ou personalidade faz o indivíduo usar continuamente o espírito crítico em relação ao próprio comportamento para acertar melhor com a causa abraçada dentro dessa visão e desse ideal. A pessoa, então, une-se a movimentos de promoção da vida digna, da boa política, de ações que melhor façam justiça para com os mais frágeis...
A pessoa humana, qual árvore frutífera, depois de bem cultivada, espalha a semente do bem em todas as situações e todos os lugares e ambientes onde se situa. Leva a sério o compromisso ético de respeito aos valores inerentes à dignidade da vida, bem como dos direitos e deveres de promoção da cidadania. Dá de si para beneficiar as pessoas e a sociedade. Não se conforma com desmandos, injustiças e lesão do bem social. Une-se a causas que ajudem a superar a inércia de quem é eleito para servir ao bem comum e não o faz. Torna-se pessoa de iniciativa para a superação de qualquer tipo de infidelidade à vocação humana de tornar este planeta bem cuidado para o benefício de todos.