Dom Demétrio Valentini Bispo de Jales (SP)
Como já é tradição, nesta época do ano a Diocese de Jales realiza uma “semana missionária”. Desta vez é na Ilha Solteira e em Itapura. Duas cidades típicas, cada uma a seu jeito.
Itapura é a localidade mais antiga de toda a região do extremo noroeste do Estado de São Paulo, onde o Tietê desemboca no Paraná. Lá havia o “salto de Itapura”, encoberto hoje pelas águas da barragem de Jupiá. Os bandeirantes souberam transformar o obstáculo em vantagem, fazendo do salto um ponto de apoio para abastecer suas excursões. Assim surgiu Itapura. Durante a guerra do Paraguai, Dom Pedro mandou construir lá um “forte”, que ainda existe, para sinalizar o ponto máximo de uma possível retirada do fronte brasileiro. De modo que a região, muito nova no seu povoamento atual, guarda raízes da história do Brasil.
Ilha Solteira deixou de ser simples acampamento para a construção de barragens, para se transformar em sede administrativa de município.
Nestas duas cidades, acontece nestes dias a Semana Missionária. É projeto assumido oficialmente pela Diocese. Uma tentativa de sustentar a motivação missionária, colocada há anos como uma das prioridades da Diocese.
Pois bem, a Igreja se defronta com o difícil desafio de viabilizar uma ação missionária permanente, eficaz e consistente, que possa ser assumida por todos os cristãos, em decorrência de sua condição de “discípulos e missionários”, como a Conferência de Aparecida tanto insistiu.
Talvez o contexto conciliar nos ajuda a entender melhor o impasse para se chegar a “uma Igreja toda missionária”.
O Concílio foi muito generoso em apresentar uma visão de Igreja “includente”, onde todos se sentem integrados, como membros de pleno direito do povo de Deus.
Em consequência desta visão includente de pertença à Igreja, deveria resultar um compromisso, também includente, de corresponsabilidade pela missão da Igreja. De tal modo que todos se sentissem membros da Igreja, mas também responsáveis pela missão da Igreja.
Mas esta decorrência não acontece espontaneamente. Precisa ser cultivada, pensada e definida. Só assim poderá ser assumida pelos cristãos.
É ilusão pensar que a ação missionária possa acontecer sem planejamento e coordenação. A Igreja corre o risco de ver todos os cristãos alistados como missionários, mas ociosos na praça, sem que ninguém os contrate.
No século 19 e 20, a Igreja experimentou um despertar missionário, que repercutiu não só em notáveis resultados nos países de missão, mas em evidente renovação eclesial na Igreja da Europa. O nome de “missionários” era reservado aos que, organizados em Congregações ou assumidos por Dioceses, partiam em missão, onde empenhavam por inteiro sua vida a serviço da evangelização. Os missionários eram poucos, mas decididos. Agora, todos aceitam o nome, mas não suas consequências.
O Concílio despertou a consciência missionária de todos. Para que esta consciência se traduza em compromisso missionário, é indispensável a organização de projetos missionários que estejam ao alcance dos cristãos.
A ação missionária é obra comunitária, não pode ser deixada a iniciativas aleatórias.
É urgente definir projetos concretos de missão. Estes projetos encontram aplicação nas próprias comunidades eclesiais, dada a precária evangelização acontecida em nosso país. Há lugar para projetos missionários destinados à própria Igreja.
Estes projetos precisam corresponder a todos os níveis, desde a pequena comunidade, a paróquia, a diocese, a Igreja toda.
A Igreja já contou com congregações, que a representavam na missão. Agora, a Igreja precisa de projetos missionários, que envolvam de maneira prática todos os cristãos.