Ir embora

 

 

Dom José Alberto Moura Arcebispo de Montes Claros

Ficar inerte ou não fazer nada pode levar a pessoa à frustração na vida. Começar uma atividade ou andar em direção de um objetivo e voltar atrás igualmente causa decepção, a não ser para tomar um rumo melhor na vida. Deixar de buscar um objetivo de grande valor para ir atrás de outro de menos valia pode também ser decepcionante. Jesus em sua vida pública foi mostrando para as pessoas a necessidade da fé nele, alimentada especialmente por uma comida especial, como a da Eucaristia, que é a doação de sua carne e de seu sangue para a vitalidade do amor realizador das pessoas na conquista deste maior objetivo da vida.

Jesus, grande taumaturgo ou realizador de milagres, era seguido por multidões. Ele desafia a fé de todos. Muitos o procuravam por interesses de ganho material, como o alimento multiplicado (Cf. João 6, 26). Depois da promessa do novo alimento de sua carne, muitos foram-se embora. Não aceitaram o desafio da fé no Filho de Deus. Segui-Lo é aceitar suas coordenadas para o alcance do Reino do Céu. Seus discípulos ou seguidores aceitam praticar seus ensinamentos, levando uma vida com ética, com doação de si pelo bem do semelhante, trabalhando pela verdade, pelo bem, a justiça, a promoção da vida e da dignidade humana. O respeito ao outro faz o discípulo entender os limites humanos, perdoando, dando vez, ajudando a comunidade, respeitando e promovendo o bem comum, lutando por políticas de inclusão social, sacrificando-se para o crescimento dos fragilizados... enfim, imitando o Mestre na doação da vida para o crescimento da vida de todos. Isso exige fé no Filho de Deus. Alimentar-se dele é preciso. Sua Palavra aceita é vital para a conquista do grande tesouro de seu amor.

A tentação de voltar atrás é forte, principalmente quando barramos nos limites das pessoas, da família, da comunidade religiosa, da sociedade e, principalmente, de nós mesmos. Por isso, inteligentemente, como Pedro e os demais discípulos, atentamos ao desafio de Jesus: “Vós também quereis ir embora?” (João 6, 67). Com eles respondemos: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (João 6, 68).

Mas nossa vontade precisa ser sempre fortificada na caminhada com o Mestre, para não ficarmos parados com os escorregões de nosso egoísmo e inconstância. Assim como os esportistas estão sempre se treinando para jogar com desenvoltura e atingir o objetivo dos esportes, também nós precisamos da ascese ou exercitação constante na prática do amor e de todas as virtudes naturais e sobrenaturais vividas e ensinadas por Ele. A verdade, o bem e o amor são vitais e constantes em quem se treina na caminhada com Ele. Revestir-se de humildade e aceitação constante de revisão faz-nos crescer na doação de nós mesmos, sabendo que “O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada” (João 6, 63). Sendo amigos íntimos do Filho de Deus temos a velocidade crescente na caminhada com Ele. Realizamos até o milagre da ajuda à transformação de vida das pessoas caídas nos próprios limites. Não nos cansamos de ensinar aos outros a verdade da pessoa dele e de seus ensinamentos. Tornamo-nos autênticos seguidores e seus missionários.

As palavras de Josué também ressoam em nosso meio na opção de vida por seguirmos a Deus antes que aos ídolos: “Nós também serviremos ao Senhor” (Josué 24, 18).