OS CATÓLICOS DESPERTANDO PARA A BÍBLIA - DOM ZENO HASTENTEUFEL
O pouco entusiasmo de muitos católicos pela Palavra de Deus e até certa frieza diante da Bíblia, tão visível em muitos ambientes, tem sua justificativa na história. Acontece que a Palavra de Deus era extremamente cara ao longo de toda a Idade Média. Para cada Bíblia manuscrita eram necessárias, ao menos, trinta peles de ovelhas ou cabras e tudo era manuscrito, em geral, pelos monges copistas. Só mesmo reis e príncipes podiam ter a Bíblia completa; de resto, só as dioceses e grandes mosteiros.
Finalmente, no século XV, foi descoberta a imprensa. O invento de Guttenberg fez possibilitar a impressão da Bíblia. Era a Vulgata de São Jerônimo, em latim, que se espalhou rapidamente entre os bispos, padres e conventos. Mas o povo já não entendia mais o latim. Por isso, os leigos não se interessavam nem por esta "Bíblia barata" e popular, que estava sendo editada.
Quando, em 1521, Lutero já excomungado veio à Dieta de Worms, para apresentar o seu projeto de reforma, ele foi expulso do Império por Carlos V e deveria se retirar o quanto antes da cidade católica de Worms. Acabou se refugiando na Wartburg, no Principado de Felipe da Saxônia, na Turíngia alemã. Tinha levado um único livro, a Bíblia de Luttenberg.
Durante dois anos de trabalho, Martinho Lutero traduziu a Bíblia para o alemão e a fez ser impressa na cidade de Mainz. Foi um sucesso a Bíblia em alemão, na língua que o povo entendia e a um preço popular. Toda as paróquias e casas religiosas queriam tê-la, até mesmo, os leigos, com mais estudo.
O Concílio de Trento (1549-1564), em seus três períodos, voltou a insistir na Bíblia em Latim e proibiu a tradução de Lutero para os católicos. Com isso, ficou-se um longo tempo sem ter a nossa Bíblia nas línguas neo-latinas. Apenas no século XX começaram a proliferar as edições da Bíblia, em português.
Na primeira metade do século XX, todas as famílias católicas tinham em suas casas a História Bíblica, isto é, uma síntese da Bíblia, com ilustrações. Os católicos conheciam muito bem esta versão, mas a Bíblia continuava uma espécie de "livro proibido". Até mesmo no Seminário, os seminaristas não podiam ter a Bíblia.
Com o Concílio Vaticano II, já na primeira seção, começou-se a falar na Bíblia. O Documento Dei Verbum foi um dos mais importantes de todo o Concílio. Trata-se de uma Constituição Dogmática. A partir disso, os estudos bíblicos foram muito difundidos. Além disso, todos queriam estudar as línguas bíblicas, para poder compreender melhor o que estava nas palavras que lemos.
Com isso, as editoras produziam sempre mais Bíblias. Em pouco tempo, surgiram muitas novas edições e, na maioria das famílias católicas, procurou-se adquirir uma Bíblia. Podemos dizer que a Bíblia entrou nas famílias, mas as pessoas não estão ainda habituadas a ler e a rezar a Bíblia.
Em fins de 2010, o Papa Bento XVI publicou a Verbum Domini insistindo na oração bíblica, deixando claro que a Bíblia não é um simples livro de leitura, mas um livro de oração. A Bíblia precisa ser interpretada teologicamente, isto é, cada cristão deverá saber que a Sagrada Escritura está aí para nos revelar o plano e o pensamento de Deus.
Em seu último documento, a CNBB apresenta a Bíblia como o grande eixo, em torno do qual deveria girar toda a nossa vida pastoral. Por isso, estamos divulgando sempre mais a Leitura Orante da Bíblia, no modelo da Lectio Divina. Além disso, os Bispos do Brasil estão apresentando a Bíblia como a grande terapia de nossas famílias. Basta para tanto, diariamente, reunir a família, ler um texto bíblico e dar um tempo, para que cada um tire a sua mensagem e depois concluir com uma oração.
BOM ZENO HASTENTEUFEL BISPO DIOCESANO DE NOVO HAMBURGO PRESIDENTE DO REGIONAL SUL 3 DA CNBB
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O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.?subject=Sobre postagem do site">Daiane Bristot Frare Em 5 de setembro de 2012, às 14h 48min